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Sagrado

Vou sentada no autocarro como todas as manhãs. Todas menos naquelas em que vou a pé. São apenas 35 minutos a pé, por isso faço-o algumas vezes. Mas por norma vou de autocarro. São cerca de 12 minutos de autocarro. Pouco, muito pouco. Tão pouco que muitas vezes nem pego no livro que levo e entretenho-me com os jogos das frutinhas no telemóvel. Mas nas restantes vou a ler. E perco-me do mundo quando o faço.

"Desculpe."

Levanto os olhos e é um funcionário da Carris que quer o meu passe para certificar-se que tenho bilhete pago, que passei na maquineta na entrada, que está tudo bem.

"Desculpe", volta a dizer.

Passo-lhe o passe, e noto uma aura respeitosa. Olho em volta e percebo que não diz "Desculpe" a mais ninguém. Nem aos distaídos a olhar à janela. Nem os que espreitam o telemóvel.

Um livro ainda é sagrado.

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Eu sei que o que vou dizer é contra todas as regras subjacentes a estrelas cadentes, a pulseiras de nossa senhora do raio que o parta e de todas as velas de bolo de aniversário trincadas, mas a sério, pedir desejos, sonhos, enfim, algo que supostamente não está nas nossas mãos e iremos deixar nas mãos do destino, é algo que acabei de perceber me ultrapassa. Ou então é o destino que se está a lixar para os meus desejos pessoais. É justo. Eu e ele nunca tivemos lá grande relação. De certeza que tem gente muito mais simpática para ele. Portanto, resolução tomada: nunca pedir desejos a pulseiras, velas ou estrelas que não dependam única e exclusivamente de mim. Antes Depois E que me desculpem caso me voltem a dar pulseirinhas destas. Não uso, ou então faço desejos do género "espero lavar os dentes amanhã de manhã" ou "desejo que amanhã haja um anoitecer". Tenho dito Espiral