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A mostrar mensagens de 2021

Impressionante

 O que basta, apenas uma semente, apenas uma gota, apenas uma ligeira mudança, para todas as prioridades mudarem, e todos os sentimentos se condensarem em si próprios e nortearem-se em direções muito especificas e vincadas.  O vento não é todo o meu resguardo, afinal.  E o destino da flor pode ser desabrochar. 

Take VI

 Não sei quem és tu, mulher, Com esses olhos que me fixam Com essa gargalhada pronta Com sentido de humor cortante e negro Mas que esconde o seu sorriso timidamente nas páginas de um livro   Não sei quem és tu, mulher Que salta sem hesitar um precipício Que faz tudo, tudo por lealdade a um amigo Que tropeça, cai, cara suada, corpo ensanguentado.  Não sei quem és tu mulher,  Corpo ondulante, mas trapaceiro Nervos na ponta da pele mas não nos atos, Comportamento imprevisto quando espero padrão. Não sei quem és tu mulher, Não sei se te quero, Mas não te quero deixar ir.   

Não sei de vocês

 Mas a mim dá-me um quentinho no coração sentir (saber?) que há pessoas que, talvez, se tivéssemos virado ao lado numa qualquer encruzilhada na vida, seriam "nossas". Mas que no caminho que fomos percorrendo, foram tendo papéis de amigos, mentores, conhecidos,  colegas, parceiros de equipa, em momentos específicos ou cenários demarcados.  Não sei de vocês mas a certeza de uma atracção mútua , não naquele momento, mas num outro plano, numa outra vida, é romanticamente irresistível.

Humanidade.

 Ela  deu dois passos atrás sustendo a respiração,  os cafés saltando das chávenas. Quase que gritou o nome do marido, estridente, arrastando no tempo, como faz, sempre, sempre, que lhe quer contar algo que acha importante. Mas segurou-se. Arregalou os olhos, apertou os lábios, num meio tempo entre a indignação, a inveja, a estupefacção. Na memória presente as mãos dele enrolados no cabelo dela, os corpos demasiado próximos, as bocas presas.  Engoliu em seco, ficou hesitante entre ir-se embora, e tentar traduzir os murmúrios rápidos prolongados por silêncios densos. Ouve tempo, desperdício, agora, esqueci, palavras soltas que a fazem corar de curiosidade, beatice e prazer, eu bem sabia, não sabendo nem um pouco. Fica estonteada pela novidade, pelo clima de mistério, pela excitação de notícia fresca, de segredo e de algo que só ela sabe.   Não se segura e corre pelas escadas. Vê o marido, na mesa de pedra do pátio, cerveja na mão, cigarro meio fumado nos dedos, olhos semicerrados no hor

Lutos III

 Não confundir a realidade com a fantasia.  O que se se possui com o que se deseja.  O que se precisa com o que se quer.  Nunca, nunca tomar decisões quando a angústia nos consome.

2021

 Encontro coisas que não sei se escrevi, se escreveram, se me escreveram, mas gosto dos verbos. Se fui eu, tenho os takes errados e este seria o primeiro.  *** Houve um dia qualquer na minha vida em que imaginei como seria se todas as relações humanas ficassem escritas. Se fossem um livro. Mais longo, mais curto, um romance, uma novela, um conto. Um poema. Desde esse dia, sempre que conheço alguém que me toca, não consigo evitar pensar como seria o livro da estória que começa nesse momento. Ou como gostava que fosse.  Este é o nosso 3º capítulo, na minha cabeça: "Volto ao sítio onde te conheci. Olho a minha cidade, a minha casa. A sensação de partir antes de chegar torna-se um lugar-comum, triste, da impossibilidade de ficar em alguém. De tocar nas pessoas, de deixar que elas me toquem, para depois partir, com um  até já  que soa sempre a  até um dia, até nunca mais.   Perco-me nesta ideia enquanto te espero. Fumo um cigarro, debruçado sobre a varanda mais bonita de L

Mudar a narrativa

Deixa de ser quem ficou vulnerável. Muda a perspectiva. Deixa de te sentir vitimizada. Vê o outro. Sente o outro. Vê do ponto de vista do outro. Muda a lente, muda a história, muda. Muda a narrativa. Isso muda tudo.

Mas Amor não é ter.

 Uma das razões porque nunca lutei por amor está espelhada no título.  Não acredito na insistência, no vencer pelo cansaço, na luta para conquistar. Acredito no jogo, no interesse mútuo, na vontade e no querer. A dois. Como disse uma vez, há 13 anos para um amigo meu, que me questionava "porquê?", "Se um não quer, dois não dançam". Claro que esta dança pode começar não sintonizada. Tudo bem. Mas acredito que ou harmoniza em determinados tempos (cada pessoa saberá o seu) ou então mais vale partir.  Ainda existem demasiadas pessoas sedentas de amor presas ao sentido de posse dos outros.

Nunca lutei por amor

Nem todos os amores foram fáceis. Não tive muitos amores, nem me apaixonei muitas vezes. Já me apaixonei incontrolavelmente e sem retorno. É duro sim.  Mas quem quis partir, deixei ir. Quem nunca quis ficar não segurei. A quem clamei o que sentia e não foi correspondido.... encolhi os ombros e o coração, "são as regras do jogo", guardei as armas e retirei-me. Em fragalhos a maioria das vezes. Noutras, foi apenas o ponto final que precisava para me erguer.   Não fugi, mas também não insisto, não luto, não pressiono. Mostra o que sinto, sem jogos, sem  subterfúgios, ridiculamente aberta e transparente. Nunca, nunca terei vergonha do que sinto ou senti. A minha maior vulnerabilidade e também o meu maior poder.  De mim, esperem amor total, mas não mais.  Inspiração: Scorpions

Não imaginas, nem fazes ideia....

 Mas por mais cordas que coloque, mais armas, mais vantagens, mais benefícios, mais amor, mais relação, mais alegria, mais envolvimento, basta um segundo dele a olhar para ti, para que toda uma construção com alicerces bem fortes, abane e pareça que vai cair como um simples castelo de cartas. 

Bonito

" Em persa, ‘sinto falta de ti’ diz-se ‘delam barāyat tang shodeh’ que significa ‘a tua ausência comprime o meu coração’."   Do maravilhoso Xilre

Espera.

 Espero-te, naquela esquina cansada, naquela ponte abandonada, no vértice daquele triângulo de onde me atirei.  Espero-te. Com um sorriso novo, com alegria, com a alma cheia de beijos, afectos e risos guardados. Espero-te. Entre corpos trocados, mãos que se desenlaçaram, vidas interrompidas e amizades perdidas.  Espero-te. No canto do quarto, no ângulo dos planos, na curva que não escolheste ou viste.  Inspiração musical: Mirta da Silva - Tras Salome. (e toda e qualquer letra de Jorge Palma.)

Perspectivas

 Enquanto se calça e afasta o cabelo emaranhado do rosto, tenta controlar o bater rápido que quase lhe salta do peito. Tenta esconder o desânimo, a desilusão, mas também a excitação e a volátil esperança. No entanto, sabe que ele não vê, que não ouve o rugido emotivo que há dentro dela.Sente-o tão ali ao lado, tão presente, tão terreno. Apetece-lhe declarar-se loucamente disfarçando em mil palavras disparatadas. Mas, como sempre, desde há meses, tem receio. De ser vista como pueril, ingénua, de tentar burlar este jogo, viciante e vicioso onde se encontram. Por isso  responde-lhe sempre meio cortante. Assim fica mais difícil ver a ferida. Olha-o de lado, enquanto prepara o cigarro. Ainda tem uma dor doce no ventre. Vai até a porta e sem olhar, diz "Tenho que ir, mas ainda sobrou 10 minutos. Ficas?"

Take 5 - Do que

 Olho-te, enquanto vestes a blusa, com gestos bruscos da pressa. "Nunca estivemos lentamente." Quase que o digo. Seguro, porque sei que vais virar rapidamente o teu rosto para mim, e com os olhos cheios de escudos vais dizer algo como, "Porque será?" ou um ríspido "Não percebi.", ou um "Ah?" magoado. E por mais que saiba que tens razão, ou que saiba perfeitamente que percebeste, ou que não tenha resposta à tua mágoa, deixo estas partículas no ar. Nesse ar que está tão pesado e tão leve. Ainda cheio de nós, impregnado do presente, sem réstia de passado ou possibilidades de futuro.  Sei que coras, enquanto lutas para vestires as calças. Com vagar, coloco o relógio, lentamente. Saboreio este momento, meio dormente, pungente, de ainda ter a tua pele, quente, contra mim.   Ouço-te tactear rapidamente o chão, procuras o telemóvel, o casaco, a mala.  Um barulho, dizes um palavrão baixinho, sei que bateste, descalça, no canto da cama.  Dou por mim a rir,

Take 4

Viras-te enquanto o vestido escorre-te devagar pelas costas. Passo os dedos pelas saliências das letras ainda não cicatrizadas que escolheste colocar na pele. Na penumbra, que te esconde a cara, não consigo ver o que está escrito. Ouço na minha mente melodias e penso em duas ou três possibilidades. Percorro a tua pele lisa e paro na saliência da tua anca. Bruscamente voltas-te e beijas-me. Desejo-te violentamente nesse momento. Beijo-te os lábios, a cara, o pescoço, quase que te esmago as costelas ao agarrar-te. Levanto-te para cima da secretária. Ouço sons de cacos partidos, de metal e de vidro. As tuas mãos rápidas tiram-me o cinto, puxo-te para mim e beijo-te a boca enquanto as minhas mãos procuram rapidamente pedaços do teu corpo que preciso com urgência fundido no meu.

Desprevenida

 Apanhas-me sempre quando não prevejo. Sem chão, escorregadia, descabelada e com má pele. Provavelmente também sem as sobrancelhas feitas. Ou com o peso a mais, ou a menos, em evidência. Acho que nunca choquei contigo poderosa, fantástica, de saltos, sorriso branco, lábios vermelhos, vestido insinuante. Não sei se segui a etiqueta dos encontros. De encontros de amantes que agora são desconhecidos. Apenas desejei que o som do meu coração a bater rápido não fosse tão barulhento como as minhas faces coradas escondidas pelos óculos escuros.

Take 3

Encontrámo-nos numa manhã que ainda mal anunciava a primavera. Sol e Vento. Trocamos banalidades. Estás parada à minha frente. Olhos secos. Espero. Alteram-se e ficam húmidos. Nunca te vi assim. (Nunca deixaste?). Dou dois passos. Os teus olhos ficam frios (ou receosos?), mas não te mexes. Dou mais um passo e tu oscilas.  Coloco a minha mão no teu braço e puxo-te suavemente. Olhas-me rapidamente antes de te fundires em mim. Abraço-te e surpreendo-me por me pareceres tão pequena, tão frágil. Parece-me que mil moléculas tuas se evaporaram para te encaixares. Tu, tão sólida, tão forte, tão sarcástica. Mantenho-me firme enquanto os teus ombros saltitam, e ignoro onde estou, o que quero, o que consegui. Penso "Finalmente" mesmo que seja errado.

Pensava que a "Por um triz" era a minha cena mas não.

 Para além da extensão de voz limitada da Carolina Deslandes (e fraca interpretação), realmente só gosto de músicas que vão de encontro aquilo que sou e esta tem um lado demasiado egocêntrico para o que gosto e me identifico.  É um erro achar que as pessoas procuram nos outros os nossos beijos. Pelo contrário, no máximo procuram outros completamente diferentes para conseguirem não pensar na pessoa de quem querem fugir (ou encontrar de novo) .

Poker.

 Acabei de me aperceber fazendo uma rápida apreciação do meu currículo amoroso que tenho uma postura de jogador de alto risco. All in. Ou aposto tudo ou nem sequer vou a jogo. inspiração musical: still loving you, Scorpions

Recortes.

 Por qualquer motivo não expresso, quando fantasio com encontros são sempre um conjunto de flashs visuais retirados de qualquer getty images da minha memória e colados qual patchwork manhoso feito por quem tem as mãos demasiado trémulas para colar aquilo com jeito.

Do amor, da paixão e do resto

 Falamos muito de amor e de paixão. Dissecamos com mais ou menos graça, mais grosseira ou finamente estes conceitos.  Dizemos que são distintos, independentes, diferentes, mas que também podem ser complementares e que podem ser nivelados um mais abaixo que o outro. Não sei se haverá outros estados, não tão referidos, ou se são logo catalogados em "paixão" ou em "amor". Falta aqui o encantamento e o deslumbramento. Com a paixão, se falta a carne,o to que, o tesão,  teoricamente, desaparece. Com o amor, se falta a reciprocidade, também tendencialmente tende a desaparecer. Procuramos uma explicação. Para chamar aquele sentimento que não descola, que não acaba. "Carinho especial" parece pueril. Sinto-me o principezinho à procura.

Ano Novo e uma nova palavra.

 Comecei o ano a reflectir. Não costumo fazer grandes reflexões. Mas este ano, tentei encontrar uma palavra que me guiasse. Muito graças a uma amiga que me referiu que todos os anos escolhe uma palavra que irá ser o seu mantra do ano. Ela, o ano passado escolheu reciprocidade, e eu, achando interessante, mas com alguma leveza, decidi também que iria ser a minha. É curioso como ter algo tão simples como foco nos orienta e direcciona.  Assim, e com isso em mente, este ano escolhi "superação". E a medida que este Janeiro passa, apercebo-me que esta superação não será tanto de superações externas ou conquistas, mas sim de superar constrangimentos internos. Perceber que não posso mudar o mundo, mas posso mudar o modo como reajo àquilo que o mundo me trás. E que devo procurar superar as minhas fraquezas. 

"Piropos sussurrados ao ouvido no momento certo"

 "Vais beijar-me ou terei de mentir ao meu diário?" "Tens um lápis? Porque quero apagar o nosso passado e escrever o nosso futuro." "Se nada dura para sempre, queres ser o meu nada?" *** "Também ouço vozes. Vozes que me dizem "Se não a beijares imediatamente és um tolo."" (Do mundo nada se leva, 1938) "Vim aqui esta noite porque, quando percebes que queres passar o resto da tua vida com alguém, queres que o resto da tua vida comece o mais rápido possível." (When Harry meet Sally, 1989)   retirados do livro "O piropo nacional" da Editora Guerra e Paz