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Ao pé de ti

Fujo dos momentos. Digo graças, falo de banalidades, pergunto pelas rotinas do dia-a-dia. Refugio-me nas expectativas, conquistas, nos caminhos que combatemos. Fomos sempre tão bons a batermo-nos com espadas feitas dos nossos eus profissionais quando não podemos ou queremos falar do que nos une. E essas espadas são patéticas, suadas, cansadas de orgulho e de uma soberba parva que nunca vi em nós. Soa tão artificial e fingido. E gladiamo-nos, como se quisessemos mostrar ao outro que queremos mais, que somos melhores, mais inteligentes, que vamos alcançar determinado objetivo. Olha nós, tão certos, tão espertos, tão inteletualmente complexos, tão brilhantes no firmamento que estamos a construir para nós, longe um do outro. Escondemo-nos no peito cheio e inchado do que temos e pretendemos, entre piadas novas, feitas na altura, sem história, sem mundo, sem futuro.

 Mas não permito ou consinto que surjam silêncios vazios. Porque os silêncios vazios transformam-se quando estamos presentes em qualquer coisa palpável que pode não ser nada, como podem ser aqueles momentos escritos nas estrelas Será que ainda existimos aí algures? Os nossos risos feitos dos sentimentos perdidos em músicas, dos nossos verdadeiros sonhos e medos, das nossas emoções românticas que escondemos nas páginas dos livros que lemos,  das fantasias que tecemos para nunca acontecerem, tornando-se, para mim, pateticamente valiosas. Dos nossos corpos conscientemente conscientes um do outro e raramente tocados. Do ar palpável entre nós. Da qualquer coisa que seria mas que nunca foi. Do que, vinco, imagino sozinha, não sabendo sequer se do teu lado é assim. E sei que tenho medo. Porque não quero ser engolida por um momento que só a mim me atordoa e esmaga.

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