Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2013

A questão

O problema é que a memória é lixada. E muitas vezes ao seguir em frente, o momento decisivo é quando percebemos que já não é como era. E dá um medo enorme. De esquecer. De esquecer, não necessariamente  os gestos, a pessoa, o que tinham. Esse lado, mais racional, mais óbvio, mais efectivo pode ficar, pelo menos fica mais tempo, com maior ou menor grau de memórias falsas. O que me dá medo, um medo enorme é esquecer-me da importância. Da potência da dor. Do alcance da amizade. Da força do envolvimento. Do que nós sacode a alma e nos agita cá dentro. Do que nos faz apetecer vomitar e cantar ao mesmo tempo. Do que nós dá prazer e angústia. Do puro, bonito e transcendente que pode ser um sentimento. Simples assim. Deve ser por isso que fantasio tanto. Que tenho lutos longos. Que perduro. Porque o do que é feito o amor devia durar para sempre. Mesmo que o resto não dure. E dá um medo enorme perder o que fica em nós. Porque perde-se sempre. Porque para seguir em frente, fica a lição, o erro

Por outro lado,

Sim, não tenho filhos para criar (e por este andar nunca vou ter). Não pago rendas, nem luzes, nem águas e vivo debaixo de um tecto (que se lixe a independência...). Não passo fome. Ainda tenho um carro. Ainda posso ir ao ginásio. Por isso estou óptima de vida. Os sonhos são para os caloiros. (Ou Gastões desta vida)

Engraçado

As únicas pessoas que conheço que dizem não dar grande importância ao dinheiro foram aquelas que nunca tiveram grande dificuldade em tê-lo ou a usufruírem do que ele proporciona.

O dinheiro não faz ninguém feliz mas facilita

- É muito triste quando tem que se decidir não ir a um aniversário de uma amiga porque há a gasolina, a prenda e o preço do menu em que pensar (15 euros) e por isso terei de recusar (eu que em tempos idos tendo que escolher entre ir a jantar e comprar um miminho para mim escolhia sempre os meus amigos). - Ter uma crise de nervos porque se partiu uma lente de contacto, algo que nunca aconteceu em 12 anos a usar, e agora ter que pagar metade de um seguro de um carro por outra lente. - Ter uma segunda crise e ter que devolver um determinado valor à segurança social porque pelos vistos andou a mandar-te mais do que o que devido do teu fantástico subsidio de desemprego. - Averbar a carta para se poder conduzir ambulâncias e engolir em seco quando pedem 55 euros por isso... - Não poder dar as prendas que queria às pessoas que mais amo. E sinceramente isto é o que custa mais. - Ter que deixar sempre para outro mês a compra de uns calções, capacete para ir de andar de bike (emprestad

Disto do merecimento, da justiça e dos caminhos

O mais complicado de viver numa sociedade em que se estimula o positivismo acima de tudo e o "vê sempre o lado positivo" é ter de aturar com um sorriso cansado as pessoas que com todas as boas intenções, tenho a certeza, porque são amigas, e não vêm a insensibilidade da coisa dizerem "há coisas piores, vive as coisas boas que tens e faz x ou y para te sentires melhor". Não entendem que isso é apenas conversa de treta, fácil, fácil, vazio e fútil de quem está melhor. Melhor nos aspectos de terem um chão. Uma solidez qualquer. Um caminho que já começaram a forjar. Ou um caminho já meio caminhado. Qualquer coisa. Não quero falar aqui de aspectos práticos (sejam eles, casa, um contrato, um emprego, uma perspectiva sólida) porque há sempre o argumento "ah, mas já nada é definitivo". Pois eu sei. Mas no presente têm algo, a grande maioria algo concreto e já conseguiram fazer alguma coisa. Prática. Efectiva. E olhando em volta tem pouco a ver com merecimentos

Descobri que adoro o Norte

1- A paisagem: A Peneda é um dos sítios mais bonitos deste Portugal. Para quem pensa (como eu) que só existia o Gerês, do outro lado da Montanha Amarela existe a montanha da Peneda, igualmente espantosa, com paisagens fantásticas, trilhos giros por explorar, e o santuário da Nossa Senhora da Peneda que é fantástico; vale mesmo a pena o tempo que demoramos por estradas e estradinhas para chegar lá. 2- O pitoresco.  Imperdível os encontros previstos e imprevistos, de carro ou a pé com as imponentes vacas mirandesas. Pacíficas, giras e fotogénicas, não arrendavam pé de onde estavam. Sejam carros, sejam humanos que passem ao lado =P 3- A comida. Adorei o restaurante Inácio em Braga. E o A Tulha em Ponte de Lima. E o restaurante do hotel onde estivemos hospedados. Boa comida, maravilhosa, de encher mesmo a barriga e muito em conta. 4- O hotel. Chama-se Peneda hotel, e é um hotel como eu gosto. Acolhedor, bonito e sem pretensiosismos bacocos. Simples e com um charme rústico que me enca

E também no aspecto emocional

Sou aquele tipo de pessoa que em situações de catástrofe e de crise se mantém serena, fria, concentrada. Não há pânico nem desorientação. Mas depois, quando já está tudo descontraído, serenado e calmo, depois da tempestade passar, só quero fugir, encontrar um sítio sereno e calmo, onde possa tremer, descontrolar-me e chorar.

Do que são feitos os sonhos

Sim, talvez tenha a ver com isso. Com a minha definição de romantismo. De encontros. De amores. Dos perfeitos. Achei sempre que tinha a ver com partilhas. Com construções. Com desabafos. Com conversas apaixonantes. Sedutoras. Brincalhonas. Que há sempre uma grande história, um grande enredo, antes do culminar. Que fazem sentido. Que têm aquele "pequeno ponto no nariz". Que é no tempo que se faz o amor. No tempo da espera, dos espaços, das respirações, dos silêncios, da entrega. Da entrega recatada de um olhar, de uma pele quase demasiado perto, de um prolongar de qualquer coisa no ar, de um riso confidente. Nos meus sonhos os grandes amores começam sempre a conversar....

Passagens

"-Não se pode dizer que seja um grande conversador. Nunca fui. - Pois eu diria que te fartaste de conversar comigo. -Não sei porquê, mas a verdade é que consigo falar contigo." (After Dark, os passageiros da noite - Haruki Murakami)

Aparências

Infelizmente não, não estou muito romântica. Estou frágil. E como não posso ou não consigo demonstrar como me sinto de outra maneira transponho tudo para a minha vertente mais emocional. Porque quando estou frágil, independentemente do motivo, tudo se escapa, as comportas fechadas abrem-se, tudo parecem dúvidas, e muita coisa fica em causa. Especialmente caixas fechadas e colocadas no cimo de escadotes. Ando com demasiado tempo livro para andar a limpar-lhes o pó, é isso.

Não interessa a realidade, apenas o que retiro dela

"...Na estrada um homem vem ao seu encontro. Aquele que ela esperava encontrar. Plena de alegria diz-lhe e repete-lhe que não saiu senão por causa dele. Tem razão, se quisermos. Quem não trás em si uma parcela de poeira, de pátria, de uma suave noite de Primavera? Esquece a razão que a levou a sair de casa, apenas as pernas se lembram disso. Vão caminhando os dois, caminham juntos, ele e ela, e quanto mais se afastam mais gente encontram. E como ela ama o companheiro de todo o seu coração, as pernas afligem-se seriamente. No entanto, vão-na levando sempre mais longe; têm dificuldades em acompanhar-se um ao outro. E eis que a estrada conduz a um certo espaço onde parece passar menos gente. Ali seria possível segredar qualquer coisa e lançar um olhar para a retaguarda. (...) E aconteça o que acontecer isso não pode ter nenhuma importância, pois um "eu sou tu" os une por todos os laços imagináveis neste mundo e burila, jovem, orgulhoso, e lasso, perfil sobre perfil, em meda