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A questão

O problema é que a memória é lixada. E muitas vezes ao seguir em frente, o momento decisivo é quando percebemos que já não é como era. E dá um medo enorme. De esquecer. De esquecer, não necessariamente  os gestos, a pessoa, o que tinham. Esse lado, mais racional, mais óbvio, mais efectivo pode ficar, pelo menos fica mais tempo, com maior ou menor grau de memórias falsas. O que me dá medo, um medo enorme é esquecer-me da importância. Da potência da dor. Do alcance da amizade. Da força do envolvimento. Do que nós sacode a alma e nos agita cá dentro. Do que nos faz apetecer vomitar e cantar ao mesmo tempo. Do que nós dá prazer e angústia. Do puro, bonito e transcendente que pode ser um sentimento. Simples assim.

Deve ser por isso que fantasio tanto. Que tenho lutos longos. Que perduro. Porque o do que é feito o amor devia durar para sempre. Mesmo que o resto não dure. E dá um medo enorme perder o que fica em nós. Porque perde-se sempre. Porque para seguir em frente, fica a lição, o erro, e pouco a pouco a réstia de dor, transformando-se todo aquele amor em qualquer coisa esbatida que muitas vezes apenas dá lugar a uma vaga nostalgia que se banaliza nas recordações das pessoas que perdemos.

Odeio, ao ter que seguir em frente matar o amor. Mas sigo.

Comentários

Ana disse…
Dizem que a intensidade do luto é directamente proporcional à intensidade da ligação...demora-se a matar o amor mas ao menos amou-se! :)
Espiral disse…
Sim, isso é verdade =)

O problema é quando as recordações começam a fugir...

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