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Do ter e não ter

É engraçado a percepção que as pessoas têm do dinheiro.

Independentemente de terem muito ou pouco constroem uma relação com ele que está inegavelmente relacionada com os seus valores, de como foram educados e dos constrangimentos económicos que tiveram ou não na infância.

Eu sempre tive pais com possibilidades financeiras limitadas e também com uma mentalidade de poupança., Nunca me faltou o básico, e para a escola tive tudo o que era necessário e a mais,  mas não havia para luxos ou objectos supérfluos. Além disso sempre me incutiram a ideia de poupar e de não se gastar, não só o que não se tinha, mas não gastar tudo o que tinha.

Por isso, se recebia algum dinheiro nos anos ou natais, enquanto criança e adolescente, a grande maioria guardava no mealheiro/caixa.  Poupar a longo prazo mas também a médio prazo. Lembro-me de estar um ano a poupar para comprar umas botas, as minhas primeiras botas de cano alto, com um bocadinho de salto. Tinha 17 anos. Obviamente isso significa sacrifícios. Para poupar da semanada sabia que por exemplo teria que ter cuidado com o que escolhia almoçar na escola, e levar lanche de casa, e nem pensar em ir ao cinema como muitos amigos meus iam, ou gastar dinheiro em doces.

 Durante a faculdade tive um trabalho ou outro. nas férias de verão, que deram para fazer uma viagem a barcelona (a minha primeira viagem fora do país, com excepção da viagem de finalistas do secundário a palma de maiorca) com duas amigas e ainda sobrou. poupei-o claro.

Se queremos umas coisas não podemos ter outras. 

Por isso quando acabei a Universidade e comecei a trabalhar a minha gestão do dinheiro foi rígida. Nunca me deram nada de mão beijada e eu sabia que se queria vir a ter coisas importantes teria que poupar para elas. Uma casa por exemplo. Que ainda não tenho, mas estou há 10 anos a poupar para uma entrada.
  
E foram sempre essas poupanças que me ajudaram quando estive desempregada.

Para estudar também. Vou fazer agora uma pós graduação  que custa 4500 euros e tenho orgulho em dizer que não preciso de pedir dinheiro a ninguém para a pagar. Claro que é uma grande diminuição das poupanças mas é algo em que acredito e que será óptimo para o meu desenvolvimento pessoal, intelectual e para trabalhar na área que estou a trabalhar com mais capacidades.


Mas como disse há várias opções que se tomam. Não viajei tanto como gostaria. Não fui aos concertos que gostaria de ter ido. Compro roupa muito raramente. E aquelas pequenas coisas, cabelos, unhas, pés, revistinhas ou outros pequenos luxos também é raro. E sei que grão a grão se consegue algo. E que vários grãos fazem uma quantia jeitosa
Se não se pode poupar 400, poupa 200, se não podes, poupa 100, se não podes poupa 50, se não podes poupa 20. Alguma coisa. É assim que penso.
Obviamente tenho técnicas para fazer esta gestão. Penso em percentagens.  Logo no principio do mês coloco o valor que quero poupar numa conta poupança. Divido o dinheiro que tenho para as minhas coisas por dias do mês para perceber quanto tenho diariamente. etc.

Não tenho uma relação fácil com dinheiro. Tenho um medo enorme de ficar sem chão, e não ter como me sustentar, se calhar por isso, foi sempre algo que me obriguei a fazer.

Posso dizer que hoje em dia sou mais flexível. Não penso tanto no dinheiro. Pouco sim, mas sabendo que não consigo de todo poupar como poupava, e que se às vezes não der para poupar nada não há problema. Vivo um bocadinho mais, sem pensar que estou a gastar o que não devia.

Mas é uma luta e um caminho. Gostava de ser mais leve e descontraída nisso. E vou aprendendo. 


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