Enquanto se calça e afasta o cabelo emaranhado do rosto, tenta controlar o bater rápido que quase lhe salta do peito. Tenta esconder o desânimo, a desilusão, mas também a excitação e a volátil esperança. No entanto, sabe que ele não vê, que não ouve o rugido emotivo que há dentro dela.Sente-o tão ali ao lado, tão presente, tão terreno. Apetece-lhe declarar-se loucamente disfarçando em mil palavras disparatadas. Mas, como sempre, desde há meses, tem receio. De ser vista como pueril, ingénua, de tentar burlar este jogo, viciante e vicioso onde se encontram. Por isso responde-lhe sempre meio cortante. Assim fica mais difícil ver a ferida. Olha-o de lado, enquanto prepara o cigarro. Ainda tem uma dor doce no ventre. Vai até a porta e sem olhar, diz
"Tenho que ir, mas ainda sobrou 10 minutos. Ficas?"
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