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Acabei de ouvir isto no programa Peso Pesado Adolescentes

"Já me disseram que se eu não fosse gorda era perfeita."

E ficou-me atravessada, presa na minha garganta.

Fico com tanta pena destas pessoas que ouvem estas coisas, como se a gordura matasse a sua personalidade, o seu eu e a sua beleza.

E quem diz a gordura, diz qualquer outro indício corporal que podemos ou não controlar (e não me venham com tretas que é fácil emagrecer, e que é preciso é força de vontade, e ser fortes e blá blá blá que isso cansa-me mais ainda).

E não consigo deixar de me identificar. Porque na adolescência tinha óculos, acne, cabelo encaracolado em forma de tenda e aparelho. Não era de todo o protótipo ideal. Para além disso, tinha/tenho localizado em toda a área  interna  da minha perna esquerda uma "lesão" feinha, com aspecto de celulite em décimo grau mas pior, que piora com contracção e que ainda não teve diagnóstico definitivo (causado por uma queda? esclerodermia?), e que não vai lá nem com operações estética/cirúrgicas, porque efectivamente há ali qualquer coisa que parece ser um problema / doença e também porque efectivamente tenho devido a isso ou não uma muito má cicatrização da pele. ...

Bem, este discurso todo só para dizer que a auto estima até aos meus 18/20 e poucos nunca abundou para estes lados. Mas que estes defeitos todos, que odeio, são também parte de mim. E que os óculos que tirei (uso lentes) os cabelos que ficaram mais decentes porque quiseram, a acne que nunca vai deixar-me realmente, acho que nem na menopausa, os dentes que nunca vão ser perfeitos apesar do aparelho (que já não uso) , a merda da porcaria que tenho na perna que me desfeia terrivelmente, os 5/7 kilos a mais nas zonas parvas e a celulite que apareceu nos últimos anos não fazem de mim realmente o pacote completo. Fazem metade dele, e o resto, quem eu sou fora o estético também interessa e faz mais por mim do que apenas esta carcaça que vai alimentar bichinhos.

Isto para dizer, que com o meu mau feitio, que, miúda do concurso, as pessoas que te disseram que se não não fosses gorda era perfeita não são tuas amigas, e deviam levar uns bons estalos na cara. Tu és tu. Nunca vais ser perfeita. Porque ninguém é. Mas não és menos nem mais por seres gorda.


p.s. Acho muito bem que tentem emagrecer se não se sentem bem com o corpo que têm, e também por motivos de saúde. Mas não se iludam. A nossa imagem física depende tanto da nossa imagem mental. Que nós somos aquilo que queremos ou desejamos ou percepcionamos (obviamente que também isto está dependente do que os outros projetam em nós, não vivemos em cavernas). Por isso há dias que me sinto podre de boa (com os defeitos todos acima incluídos) e outros que me sinto um patinho feio. Mas independentemente disso, não sou mais nem menos perfeita por isso. Sou eu e pronto.

Comentários

Ana disse…
Especificamente em relação à acne, também sempre sofri desse mal e não passou na adolescência. Descobri vários anos depois que o problema não era dermatológico mas sim ginecológico. Tenho os ovários poliquisticos e tendência a valores elevados de hormonas masculinas, comprovados por análises ao sangue. Andei anos a tomar medicação pesada porque senão ficava com a cara num estado lastimoso (ao ponto de parecer que tinha sido queimada na face) e afinal uma pílula específica era suficiente. Entretanto durante os tratamentos de infertilidade, descobri um suplemento natural, chamado de ovusitol, que fez o mesmo efeito (não me dou bem com a pílula) e o problema resolveu-se. Como estou grávida, nesta fase e algum tempo depois não preciso de tomar pelo excesso de hormonas femininas que circulam no corpo mas sei que o mais provável é uns meses (ou anos?) depois voltar e já sei o que fazer. Bom, não sei se o teu caso é tão grave como foi o meu, a questão era muito mais do que estética, tinha bastantes dores na cara com enormes caroços e muita comichão, mas caso seja, fica a dica de que há formas de controlar a acne de dentro para fora (e não com os produtos caríssimos de dermatologia que não servem para nada).
M. disse…
Cada um é perfeito com todos os seus pormenores, é isso que torna as pessoas interessantes. Valorizo imenso todos aqueles que fazem por mudar o que têm de menos bom mas essa mudança deve de ser apenas para ser melhor não para se tornar mais estereótipo da sociedade atual.
M. disse…
Cada um é perfeito com todos os seus pormenores, é isso que torna as pessoas interessantes. Valorizo imenso todos aqueles que fazem por mudar o que têm de menos bom mas essa mudança deve de ser apenas para ser melhor não para se tornar mais estereótipo da sociedade atual.
Espiral disse…
Mãe Sabichona,

Obrigada pela partilha. O meu acne, felizmente não tem características tão extremas, mas é persistente, e mesmo agora aos 30 ainda vou tendo. Mas nada comparado como tinha até aos 20 anos, com a minha cara, peito e costas num estado lastimável.

Ainda bem que no teu caso se encontrou uma resposta à altura. A medicação que cheguei a tomar apenas me agravou o problema (tenho pele acneica, oleosa e sensível, o que a torna um cocktail engraçado...)

M,

Concordo contigo de todo =)

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Voltei mesmo?

 A minha vida vai dando voltas e voltas e escrever que é parte do que sou desce nas prioridades. Despedi-me e em Maio comecei um novo desafio profissional. Menos estabilidade mas mais valorização e autonomia a vários níveis. Quero ensinar ao meu filho que não pode ter medo de correr atrás do que o pode fazer feliz, mas mais importante, não ficar onde está infeliz, pensado que os ses tem significado. Emocionalmente e profissionalmente. Ser mãe é maravilhoso. O sorriso do meu filho preenche recantos da minha alma que nem sabia que existiam. É uma banalidade, mas conto pelos dedos da mão as vezes que senti isto na vida desta maneira. Agora basta o sorriso dele todos os dias. Tornei-me uma pessoa mais confiante desde que sou mãe. Também mais empática. Melhor não sei. Mas mais focada no que é realmente importante.  Mas no entanto... escrever faz-me falta. Deixar sair o que me vai na alma, nos anos, na memória, na criatividade, no desejo incontrolável de controlar emoções, contraditório eu s