Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2021

Humanidade.

 Ela  deu dois passos atrás sustendo a respiração,  os cafés saltando das chávenas. Quase que gritou o nome do marido, estridente, arrastando no tempo, como faz, sempre, sempre, que lhe quer contar algo que acha importante. Mas segurou-se. Arregalou os olhos, apertou os lábios, num meio tempo entre a indignação, a inveja, a estupefacção. Na memória presente as mãos dele enrolados no cabelo dela, os corpos demasiado próximos, as bocas presas.  Engoliu em seco, ficou hesitante entre ir-se embora, e tentar traduzir os murmúrios rápidos prolongados por silêncios densos. Ouve tempo, desperdício, agora, esqueci, palavras soltas que a fazem corar de curiosidade, beatice e prazer, eu bem sabia, não sabendo nem um pouco. Fica estonteada pela novidade, pelo clima de mistério, pela excitação de notícia fresca, de segredo e de algo que só ela sabe.   Não se segura e corre pelas escadas. Vê o marido, na mesa de pedra do pátio, cerveja na mão, cigarro meio fumado nos ded...

Lutos III

 Não confundir a realidade com a fantasia.  O que se se possui com o que se deseja.  O que se precisa com o que se quer.  Nunca, nunca tomar decisões quando a angústia nos consome.

2021

 Encontro coisas que não sei se escrevi, se escreveram, se me escreveram, mas gosto dos verbos. Se fui eu, tenho os takes errados e este seria o primeiro.  *** Houve um dia qualquer na minha vida em que imaginei como seria se todas as relações humanas ficassem escritas. Se fossem um livro. Mais longo, mais curto, um romance, uma novela, um conto. Um poema. Desde esse dia, sempre que conheço alguém que me toca, não consigo evitar pensar como seria o livro da estória que começa nesse momento. Ou como gostava que fosse.  Este é o nosso 3º capítulo, na minha cabeça: "Volto ao sítio onde te conheci. Olho a minha cidade, a minha casa. A sensação de partir antes de chegar torna-se um lugar-comum, triste, da impossibilidade de ficar em alguém. De tocar nas pessoas, de deixar que elas me toquem, para depois partir, com um  até já  que soa sempre a  até um dia, até nunca mais.   Perco-me nesta ideia enquanto te espero. Fumo um cigarro, debruçado sob...

Mudar a narrativa

Deixa de ser quem ficou vulnerável. Muda a perspectiva. Deixa de te sentir vitimizada. Vê o outro. Sente o outro. Vê do ponto de vista do outro. Muda a lente, muda a história, muda. Muda a narrativa. Isso muda tudo.

Mas Amor não é ter.

 Uma das razões porque nunca lutei por amor está espelhada no título.  Não acredito na insistência, no vencer pelo cansaço, na luta para conquistar. Acredito no jogo, no interesse mútuo, na vontade e no querer. A dois. Como disse uma vez, há 13 anos para um amigo meu, que me questionava "porquê?", "Se um não quer, dois não dançam". Claro que esta dança pode começar não sintonizada. Tudo bem. Mas acredito que ou harmoniza em determinados tempos (cada pessoa saberá o seu) ou então mais vale partir.  Ainda existem demasiadas pessoas sedentas de amor presas ao sentido de posse dos outros.

Nunca lutei por amor

Nem todos os amores foram fáceis. Não tive muitos amores, nem me apaixonei muitas vezes. Já me apaixonei incontrolavelmente e sem retorno. É duro sim.  Mas quem quis partir, deixei ir. Quem nunca quis ficar não segurei. A quem clamei o que sentia e não foi correspondido.... encolhi os ombros e o coração, "são as regras do jogo", guardei as armas e retirei-me. Em fragalhos a maioria das vezes. Noutras, foi apenas o ponto final que precisava para me erguer.   Não fugi, mas também não insisto, não luto, não pressiono. Mostra o que sinto, sem jogos, sem  subterfúgios, ridiculamente aberta e transparente. Nunca, nunca terei vergonha do que sinto ou senti. A minha maior vulnerabilidade e também o meu maior poder.  De mim, esperem amor total, mas não mais.  Inspiração: Scorpions

Não imaginas, nem fazes ideia....

 Mas por mais cordas que coloque, mais armas, mais vantagens, mais benefícios, mais amor, mais relação, mais alegria, mais envolvimento, basta um segundo dele a olhar para ti, para que toda uma construção com alicerces bem fortes, abane e pareça que vai cair como um simples castelo de cartas.