Encontro coisas que não sei se escrevi, se escreveram, se me escreveram, mas gosto dos verbos.
Se fui eu, tenho os takes errados e este seria o primeiro.
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Houve um dia qualquer na minha vida em que imaginei como seria se todas as relações humanas ficassem escritas. Se fossem um livro. Mais longo, mais curto, um romance, uma novela, um conto. Um poema.
Desde esse dia, sempre que conheço alguém que me toca, não consigo evitar pensar como seria o livro da estória que começa nesse momento. Ou como gostava que fosse.
Este é o nosso 3º capítulo, na minha cabeça:
"Volto
ao sítio onde te conheci. Olho a minha cidade, a minha casa. A sensação
de partir antes de chegar torna-se um lugar-comum, triste, da
impossibilidade de ficar em alguém. De tocar nas pessoas, de deixar que
elas me toquem, para depois partir, com um até já que soa sempre a até um dia, até nunca mais.
Perco-me nesta ideia enquanto te espero. Fumo um cigarro, debruçado
sobre a varanda mais bonita de Lisboa. Olha para o relógio, passam 3
minutos das 20. Lisboa veste-se para a noite, com as luzes a delinear a
colina do Castelo. Não há outro lugar no mundo como a minha casa.
Sinto-te aproximar, andando como quem dança, no meio de todos os passos
perdidos dos turistas que passeiam. Os teus passos são diferentes, mais
leves, mais seguros, mais objectivos. Finjo que não sei que estás ali,
entre o fumo do cigarro e o coração acelerado. Tocas-me no ombro,
sorris, olhas-me com esses olhos de gato que me vasculham o corpo e a
alma, sem nunca se esconderem. Não estou habituado a tamanha
confrontação, a essa deliciosa invasão de propriedade emocional que não
pede licença a ninguém. Ficamos assim muito tempo, silêncio de palavras e
conversa de olhares, o teu mais-do-que-profundo e o meu condicional
condicionado. Perco-me no reflexo dos teus olhos, por breves instantes,
onde vejo o espelho da minha alma nua, segredos revelados. Todos os
pensamentos possíveis desfilam na minha cabeça num espaço de tempo pre-mortem. Penso
em tudo até não conseguir pensar em nada, olho-te com os teus olhos,
seguro-te com a delicadeza e a segurança de quem dança, de quem sempre
dançou, mesmo sem tirar os pés do chão. Passo de condicional
condicionado a apenas imperfeito.
Fecho os olhos e beijo-te, beijo mais-do-que-perfeito."
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