Ela quando entrou no comboio só queria encontrar um lugar sentada para poder pintar as unhas.
Sentou-se no primeiro assento que viu e só depois olhou para o homem à sua frente. Homem de 40 e tais anos e sorriso de miúdo. A segurar uma bóia da barbie e com um conjunto de guizos coloridos de gato ao pescoço. As pessoas que passavam não se sentavam "deixe estar não precisa de tirar as coisas", e franzindo o sobrolho iam-se embora. Ele lá ficava, prestável, com o seu saco na mão. Uma miúda que se sentou à frente dele, levantou-se quando ele lhe perguntou alguma coisa e foi-se embora. Ela continuava a pintar as unhas. Não passa de um botão de volume. Mas em vez de um botão de volume é um botão de "capacidades cognitivas" em que alguém, por descuido, tocou e fez com que baixasse. Talvez se explicasse ás pessoas que não passava de um botão de volume que alguém baixou as pessoas não fizessem aquele ar incomodado. Aquele ar meio assustado, meio deslocado. Mas ela só queria pintar as unhas enquanto o comboio balançava. Algumas pessoas olhavam para ela com ar estranho. Algumas com um sorriso que dizia "isso vai dar merda". E realmente houve uma altura em que sujou o dedo todo. O senhor com o o sorriso de miúdo riu-se. Ela olhou para ele e foi a única que também riu com ele.
Espiral
Comentários