Boémia. Despreocupada. Sempre tive agarrado a mim um peso enorme. Nas costas, no peito, nos pés, nem sei onde. Como se senti-se em mim todo a responsabilidade do mundo. Não sei como, nem porquê. Essa sensação de culpa. Por existir. Por querer, com paixão, com fúria, encontrar a razão do meu lugar neste mundo. Uma justificação. Uma anulação de pena. Por isso, na infância toda uma ansiedade " E seu eu não conseguir aprender a ler? OK. Todos os meninos conseguem. Mas, imagina que eu não?" . Por isso, menos menina, ao passar na rua e ao ver sem abrigos, sentir um desconforto, como se a responsabilidade daquela vida, daquele desenquadramento, daquela infelicidade fosse, em toda ou em parte minha. Sempre pensei que um dia, quando encontra-se o meu lugar no mundo, descansaria, pararia de lutar. E incrivelmente, eu, romântica, emocional, profunda, ligava esse lugar no mundo a, e tão só, um "emprego", Uma profissão, que só por ela me mostrasse quem eu eu era e que por...